FILHOTE
DE CANGURU
Deolino
Pedro Baldissera
Os cangurus quando nascem vão direto para o marsúpio (bolsa na
barriga da mãe). Eles nascem imaturos e precisam dessa proteção para se
desenvolver. Ali eles mamam e são protegidos. Ficam escondidos ali até mais
ou menos dois meses, ai começam a aparecer com a cabecinha para fora, saltitam
buscando alimento na relva próximo da mãe. Em torno de um ano deixam
definitivamente bolsa materna, começando a ter vida independente e aos poucos
se tornam adultos, convivem com os outros cangurus assumindo os papéis próprios
dos cangurus adultos. São inofensivos. Só atacam quando se sentem ameaçados.
Em alguns aspectos nós humanos somos parecidos aos cangurus. Também
nós quando nascemos precisamos dos cuidados maternos, leite, proteção, afeto.
Normalmente a criança se alimenta da mãe durante 6 meses e aí começa a receber
alimento mais sólido até que não necessitar mais do peito da mãe. Deixa de
mamar, mas continua precisando da proteção e afeto até ficar adulto. Na medida
em que cresce vai adquirindo mais autonomia, passada a adolescência, assume
papéis e responsabilidades e convive nos grupos sociais interagindo como adulto.
Esse deveria ser o processo normal e é o esperado pelos demais. Contudo no
dia-a-dia há muitas pessoas adultas em idade, mas comportam-se e continuam como
cangurus bebê, não conseguem viver independentes do “colo” materno. Buscam
pessoas que lhe façam às vezes de mãe babá permanente. Suas relações são
marcadas por apegos exigentes e permanecem infantis na sua busca de proteção e
afeto. Não amadurecem afetivamente. São
homens, mulheres, em idade cronológica adultos, exercendo papéis de adultos, são
responsáveis, tem competência profissional e não entanto na parte emotiva
afetiva comportam-se como crianças! Não amadureceram e reagem às desatenções
com atitudes que destoam do comportamento esperado. Continuam na dependência
dos cuidados “maternos” como cangurus que não conseguem abandonar o marsúpio.
Essas situações aparecem em diferentes formas de conduta. Há pessoas que abrem
mão de sua autonomia, renunciam a uma personalidade própria, contanto que alguém
se encarregue de cuidá-las, são dependentes. Há outros que de modo mais
disfarçado procuram dominar outras pessoas para tê-las a seu serviço, comprando
o afeto com favores e outras formas de recompensa. Há também aqueles tentam
nutrir sua afetividade imatura com chantagens emocionais ou mesmos com doenças.
Há ainda aqueles que se fecham num mundo a parte como solitários desligados da
vida dos demais. Outros tantos reagem às frustrações afetivas com vitimismos
escandalosos chamando atenção pelo exagero de suas “dores”. Muitas outras
formas poderiam ser elencadas. Esses exemplos ilustram o quanto a questão
afetiva é importante no processo de crescimento e amadurecimento. Nas questões
afetivas a maturidade não se mede pelo número de anos que a pessoa tem. Uma
pessoa de 50 anos pode ser mais imatura do que uma de 25. Em geral a causa do
problema se encontra nas interações mal dosadas do início da vida. E nesse período em que os
desequilíbrios começam e a responsabilidade maior recai sobre os “cuidadores”,
isto é, as pessoas mais significativas na vida da criança, (mãe/pai ...). O
aspecto afetivo é determinante para o equilíbrio de relações sadias. Criança
mal amada em geral será adulto problemático. Cuidar bem delas enquanto elas não
sabem se auto gestir, é garantir-lhes a possibilidade de serem adultos
independentes capazes de convívio sadio com os demais. Os filhotes de cangurus
quando adultos não precisam mais do marsúpio, porque aos poucos aprenderam a
cuidar de si como independentes, mantendo-se em comunhão com seu grupo. Na
medida em que cresciam seus “pais” deixavam que vivessem suas vidas, integrando-se
como adultos na sociedade dos cangurus. Quem sabe nós humanos poderíamos
aprender algo com os cangurus, para nos tornamos pessoas maduras não só no
tamanho físico e na competência profissional, mas também nas relações sociais
equilibradas, sem muitos subterfúgios que atrapalhem a autonomia sadia e
permita um convívio mais harmonioso com os demais.